Oi!
Meu filho estrela me perguntou dia desses se poderia emprestar a ele meu carro quando ele tiver 38 (!) anos:
- Claro filho, empresto sim.
- Mãe e você me deixa treinar quando tiver 18?
- Com certeza amor! Mas não vamos falar disso agora... Você tem cinco anos e não quero pensar que vai crescer assim tão depressa...
- Mãe!, ele sorriu com o canto da boquinha, a vida é assim! A gente nasce, cresce, aprende as coisas e depois morre. Todo mundo, um dia, vira estrelinha...
(...)
Ah fala sério! Trata-se de uma criança e ele não tem - pelo menos eu acho - a menor noção do impacto desse diálogo inocente para os meus ouvidos. Nem sempre, raramente ou nunca temos a ideia real do que despertamos no outro, concorda? Tipo assim, dar ou receber sorriso a um desconhecido que está, assim como você, tão desconfortável no traje social dentro de um elevador cheio àquela hora da manhã, pode mudar o curso do seu, ou do dia alheio.
O escritório onde trabalho mudou de endereço. Da minha mesa a vista imediata é o pirulito da Praça Sete - Seven Square para aumentar o glamour. Definitivamente isso não combina com olhos azuis e pele alva... Brincadeiras a parte, downtown é uma loucura! Gente que vem de todo lado e vai ziguezagueando matando um leão a cada passo. Qualquer movimento simples na Rua Ubá é uma disputa pela pole na Tupinambás. Dureza! E eu, absolutamente desacostumada a esse ritmo olímpico, levei um tombo daqueles em minha semana inaugural no novo endereço. Ah, mas fiquei numa alegria... E na manhã seguinte (calçando 'pisantes' mais adequados a pisos com depressões) passei pelo mesmo local com o esqueleto tenso e olhos mais atentos. Cheguei até a pensar que as mesmas pessoas do dia anterior haviam guardado lugar ali, tal qual uma arquibancada, só para ver os passos tortos da novata 'desequilibrista'. Que inocência a minha em sugerir ao pensamento que o centro nervoso diminuiria o ritmo só pra me ver passar. Privilégio só de Tom e Vinícius... Mesmo assim atravessei o território com raiva do destino.
E foi aí que apareceu alguém pra mudar o meu dia. Congelei minha atenção num jovem tipo comum, que parado no meio do quarteirão, mostrava expressão feliz - adaptada no mínimo - e escancarava os dois e únicos dentes brancos e firmes. Não tem jeito, o que sai do padrão, tende a chamar a atenção. Mas o que me encantou no jovem foi o que ouvi quando cheguei dele bem pertinho. Cumprindo com naturalidade seu trabalho, ao passar por ele, estendeu os braços entregando-me um folheto 10x15 e aproveitou para gritar enfatizando o seu papel ali: "Dentista!". O jovem banguela cumpre todos os dias com desenvoltura, naturalidade e profissionalismo o job que lhe foi dado: informar que no prédio em frente há um dentista buscando novos pacientes. Alguém se habilita? Mas esses são outros quinhentos...
Chego toda manhã agora mais feliz por ver o rapaz que não teme nada. Isso me dá uma força... E ele nem sabe disso. Fazemos muito mais diferença na vida das pessoas do que pode imaginar nossa vã filosofia. Tomemos mais cautela com as ações e emoções. Ou, enchemos de coragem o peito para não permitirmos que a vida passe por nós e não o contrário. Dentista!!!
Beijos com arcada perfeita - e mesmo que não fosse...
E Feliz Dia dos Pais ontem, hoje e amanhã. Olha que sossego a Manu no colo do vovô. Ou o contrário?